segunda-feira, 15 de junho de 2009

É possível criar um jornal em papel que dure 10 anos?!

A ‘Deloitte’ apresentou, em 30 de Janeiro de 2009, um estudo onde se defende que os jornais impressos devem limitar o jornalismo on-line, pois segundo o relatório de “Previsões para os Media em 2009”, "se o online sozinho não funcionar do ponto de vista financeiro, a presença digital de um jornal deve ser reduzida significativamente de modo a encorajar as pessoas a voltarem para o produto físico".

Será esta ideia correcta?
Não sei até que ponto limitar o jornalismo on-line iria fazer com que as pessoas voltassem gradualmente aos jornais impressos. É praticamente impossível restringir algo na Internet, pois há uma globalização das notícias que não se consegue controlar.
Nesta reflexão ainda não consegui encontrar uma forma de combater o jornalismo digital e valorizar o jornalismo em papel, para que assim possa criar o jornal que atraía as pessoas e que consiga fazer os leitores o comprarem regularmente durante mais de 10 anos.
É difícil criar um jornal em papel que perdure daqui a 10 anos, simplesmente porque por muito atraente que seja o jornal, a verdade é que os jovens de hoje não têm o hábito de ler jornais. Pelo contrário, os jovens são muito mais adeptos do jornalismo on-line.

António Granado, jornalista do Público, defende que estabelecer limites ao jornalismo on-line é “um suicídio” e fazê-lo seria agradar aos mais velhos por estes estarem habituados ao papel. O jornalista defende ainda que os jornais de papel “têm os dias contados”.

Mais uma vez, acredito que é praticamente difícil elaborar um jornal diário que sobreviva daqui a uma década, porque actualmente a sociedade mais jovem está vive em perfeita ligação com aquilo que é digital. E, como se sabe, o mundo é dos mais jovens e o futuro também. O futuro dos jornais em papel está intrinsecamente ligado à geração de jovens que actualmente cresce em Portugal e no mundo: jovens adaptados à era digital, onde buscam e procuram tudo o que querem à distância de um ‘clique’ e sem recorrer aos jornais tradicionais. O facto da Internet permitir o acesso a um número ínfimo de informações, possui ainda a vantagem de ser gratuita. Com a crise que se abate sobre Portugal e com uma sociedade jovem que se interessa muito mais por elementos digitais do que por coisas tradicionais é complicado fabricar um jornal em papel que consiga vencer neste panorama da imprensa portuguesa.


Num documento intitulado “O Futuro dos Jornais?”, Álvaro Costa de Matos elaborou uma recensão crítica sobre o debate onde participou Joaquim Vieira (Observatório da Imprensa) e Rita Espanha (OberCom – Observatório da Comunicação). Nesta recensão, há uma questão que vai de encontro à reflexão que ando a elaborar, que é a seguinte:
“Como combater a diminuição de leitores dos jornais tradicionais? Que soluções poderão ser encontradas/experimentadas? Serão as remodelações gráficas recentemente encetadas por alguns jornais (Expresso, Público e Diário de Notícias) suficientes?
Novo consenso: as remodelações gráficas encetadas pelos jornais referidos são manifestamente insuficientes para inverter aquela tendência. Igualmente esgotada, ou em vias de, está a fórmula de vender ou mesmo dar produtos associados ao jornal, como livros, filmes em DVD e CD’s com música. As vendas são limitadas no tempo e, pior, não fidelizam nem a marca nem a leitura. Para Rita Espanha, uma das soluções passa pela credibilidade dos jornas de referência, pois uma boa parte “das pessoas continua a achar que a credibilidade da informação está nos meios tradicionais”. Mas o ideal será aliar a credibilidade a novas formas de organizar a informação, a novos conteúdos e a uma nova relação com o leitor. Em cima da mesa está também a possibilidade dos jornais de referência passarem a gratuitos, com algumas experiências no terreno, como a distribuição gratuita do Público em certas universidades. O objectivo é chegar às gerações mais novas, marcadas pela filosofia da Internet, onde a informação não tem necessariamente de ser paga. Incontornável também é a colocação do jornal na Internet, através da versão on-line da edição em papel. Mas aqui ainda estamos numa fase de experimentação. Como nos diz Rita Espanha os jornais ainda não encontraram a forma de rentabilizar a sua presença no ciberespaço, ainda não a estabilizaram, indecisos que andam quanto à gratuitidade ou à cobrança no acesso à versão on-line do jornal (vejam-se os casos do Público ou do Expresso, os mais paradigmáticos desta indefinição). Outras estratégias seguidas pelos jornais para captar mais utilizadores, nomeadamente para os sites, rentabilizando assim a presença na Internet, assentam na utilização dos blogues, nos conteúdos em podcast ou mesmo nas sondagens on-line. Joaquim Vieira lembra ainda a necessidade de os jornais actuais prepararem, desde já, o futuro, alterando profundamente as suas redacções, combinando palavras, imagens e som, ou seja, integrando todos os tipo de media. Convergência será a palavra de ordem. E desta nascerão as redacções multimédia, como já existem nos EUA ou na Suiça. Os jornais estarão assim em condições de maximizar quer a versão em papel quer a versão linha, mas vistos em conjunto, como um único produto. Aqui residirá a diferença…”.


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